29 janeiro, 2010

Querida, estiquei o iPod!

Finalmente um post de tecnologia, pra não desvirtuar meu lado computeiro!

De vez em quando escutava da Mauren que o Steve Jobs consegue gerar um campo de distorção em volta de tudo que ele lança e fazer algo não tão bom assim parecer ótimo. Leia-se: Mac, Macbook, iPod, iPhone, etc, etc, etc (inclua aqui qualquer coisa começada com i).

Tendia a concordar, pensando do ponto de vista técnico. Acho o Sony Walkman muito melhor que o iPod em termos técnicos (qualidade de som, robustez do aparelho, autonomia da bateria, etc). Acho o N97 bem melhor que o iPhone (tem câmera de 5 megapixels com lentes Carl Zeis, 3G, teclado querty, touch screen, funciona como drive USB, tem saída pra TV, multitarefa, copy 'n paste, permite aplicações gratuitas, permite flash, etc, etc, etc). Enfim, não entendia a Apple ter tanto suceso.

Acreditva no "Campo de distorção" do Steve Jobs. Claro que por Campo de Distorção, no fundo achava que a culpa era da midia.

Hoje, discutindo sobre o novo iPad, caiu a ficha mais a fundo da visão de mercado do Jobs. Não que a mídia não tenha ainda um peso razoável na minha opinião (o prefixo i ainda é sinal de status, os filmes/séries ainda mostram a Apple, junto com a Nike), mas é mais que isso.

Tecnicamente? O iPad parece um iPodzão. Não tem multitarefa, não tem 3G, não passa vídeos wide screen, não tem câmera, aplicações são compradas na Apple Store (um ecossistema um tanto fechado em comparação a outros SOs), não tem flash, não tem USB... por ai vai...

Em termos de novidade? Eles simplesmente contruiram um celularzão (sem a parte das ligações), numa era de miniaturização. Mas construiram um bixo bonito, e aparentemente bem fácil de usar.

Não é tão fácil pegar coisas gratuitas, torrents, mp3, etc (por gratuitas, na maioria das vezes pode-se ler roubadas). Mas é facil comprar conteúdo, bem fácil.

Besteira? Agora pensem nas suas mães, avós, tios, etc... Vão usar multitarefas? Vão buscar cracks pra aplicações? Vão saber lidar com um symbian? Vão fazer questão do wide screen? Das lentes Carl Zeis?

Agora pensem no tamanho dos mercados...

Agora coloquem esse novo aparelho num mercado como o americano: um pouco menos adepto da pirataria (lembram do iTunes, vendendo músicas sem complicação a 0,99 e fazendo o iPod crescer?), com internet rápida barata, com muitos pontos de wifi. E um pouco mais adeptos ao consumismo.

E pensem que esse mercado é mais barato, sem a carga de impostos aqui do Brasil. E sem um problema tão grande no tocante a ler usando esse aparelho no metrô (por exemplo) por medo de assalto?


Será que não é uma boa pro tio executivo ler seus jornais? Pro adolescente assistir seus filmes e séries (lembrem-se de que lá tem Hulu, Spotify, etceteras)? Pra mãe de família ver suas receitas enquanto prepara o almoço?

Enfim... eu, como tecnófilo e como alguém que trabalha na área, ainda acho um desperdício de dinheiro. Já fazia tudo isso com meu N95 há anos (e muuuuuito mais: acelerometro, gps, video,câmera, ligações, 3G, aplicações grauitas, flash, USB, saída pra TV, e mais etceteras). Mas não vejo minha mãe usando um N95...

Ainda no quesito "enfim', aqui no Brasil: não temos a internet barata, os muitos pontos de wifi, as Amazon store, os Hulu e Spotify's da vida. Aqui provalemente a venda desse aparelho seria apenas status (acho que a computação nas nuvens me permite algo com menor processamento, mas dai a pagar mais caro pra ter menos processamento que um netbook acho meio estranho).

Mas depois de tudo isso, e tendo em mente o conceito de público alvo (que, no caso da Apple não somos nós), o Steve Jobs é louco ou tem uma puta visão de mercado ao esticar o iPod?

O Mito da Caverna, ou, sobre a foto


Um tempo atrás escrevi um post chamado Je pense, donc je suis , no qual explicava (mais ou menos) o nome do blog.

Chegando no trabalho, depois, o Dandan me perguntou o motivo da foto do topo do blog. Ele fez essa pergunta  provavelmente achando que viria alguma explicação pseudo-filosófica, pedante (e prolixa) como meus textos. A resposta foi mais simples: "Sei lá, olhei minhas fotos por cima e escolhi essa".

Se mais alguém estiver curioso, a foto é de uma janela da Hagia Sofia (a mesma igreja da foto aqui desse texto), que tirei numa visita a Istambul, tirada de dentro pra fora.

Enfim, conversando com ele na hora, resolvi me impor o desafio de procurar a tal resposta pseudo-filosófica e prolixa, resposta falsa claro, mas só pra ver se eu conseguiria me sair bem. Pensei um pouco e cheguei no Mito da Caverna, de Platão. Claro que o que falei pra ele na hora (assumindo que seria uma desculpa falsa) não foi tão elaborado, mas agora com tempo de pesquisar saiu esse texto abaixo:


O Mito da Caverna

O mito da caverna trata-se de uma parábola sobre como podemos nos libertar da condição de escuridão que nos aprisiona, através da luz.

É mais ou menos assim: Imaginemos um muro bem alto separando o mundo externo e uma caverna. Na caverna existe uma fresta por onde passa um feixe da luz exterior. No interior da caverna permanecem alguns seres humanos, que nasceram e cresceram ali.

Esses humanos ficam de costas para a entrada, olhando somente para a parede do fundo da caverna, onde são projetadas sombras de outros homens que, além do muro, mantêm acesa uma fogueira. Os homens da caverna julgam que essas sombras sejam a realidade (já qie isso é tudo ao qual eles tem acesso, olhando sem questionar).

Um deles decide abandonar essa situação e foge dali. Aos poucos vai se movendo e avança na direção do muro e o escala, com dificuldade enfrenta os obstáculos que encontra e sai da caverna, descobrindo não apenas que as sombras eram feitas por homens como ele e, mais além, descobrindo todo um mundo.

Olhando pra obra de Platão, dá pra dar um chute sobre a essência dessa história. Sob a influência de Sócrates (se é que ele existiu mesmo), Platão buscava a "verdade essencial das coisas". A idéia da parábola, então, parece ser mostrar o processo do conhecimento. Mostrar a visão de mundo de uma pessoa que vive de senso comum, em contraponto com a do filósofo, na sua eterna busca pela verdade.

Só pra constar, essa interpretação é... como poderia dizer... uma interpretação. O texto original se encontra na obra A República e é um diálogo entre Sócrates e alguns interlocutores.

Essa idéia é muito aproveitada por ai, como Admirável Mundo Novo (Aldous Huxley), Matrix (Andy Wachowski e Lana Wachowski), A Caverna (Saramago), Dark city (ótimo filme de Alex Proyas), por ai vai...

Daria pra usar isso tudo pra explicar a foto, caso e escolha tivesse sido consciente, e parecendo convincente? Acho que é forçar um pouco, né?

27 janeiro, 2010

Era dos extremos, ou Amsterdam



Mais um da série Diário de Bordo, esse deve ser pequeno (ou não), porque foi de uma viagem na qual passamos por vários países, poucos dias por país. Vão vir outros posts com o tempo, dos demais países...


Em algum momento lá, acho que num albergue, alguém me disse que o Tribunal Internacional de Justiça se encontra em Haia, na Holanda, por um motivo: 

"se alguma coisa de outro lugar do mundo fosse julgada por um holandês e fosse considerada como algo ruim devido à valores preconcebidos, então essa coisa provavelmente estaria muito errada mesmo."


Essa afirmação tem cara de lenda urbana, de teoria da conspiração, mas pela minha experiência poderia bem ter ser verdade.

Que cidadezinha cosmopolita: bares de todos os lugares, sons de todos os lugares (ouvi muita música brasileira, por exemplo), pessoas de todas as etnias, comportamentos dos mais diversos.

Você anda pela rua e vê casas de prostituição aos montes, com vitrines nas calçadas nas quais as garotas se promovem, perto de sex shops vendendo coisas que nem tenho coragem de escrever aqui ("coisas" essas também expostas nas vitrines), perto de igrejas das quais saem famílias felizes e contentes de mãos dadas com suas crianças. Isso tudo em um lugar lindo, às margens do rio Amsta, com gôndolas passeando. Ahh.. nas ruas com as vitrines, as pessoas passeiam, inclusive casais e mulheres desacompanhadas... alguns só passeando, outros olhando como num shopping (de novo, inclusive casais e mulheres desacompanhadas).





Você vê um "Museu da tortura", com equipamentos de tortura os quais nem tenho coragem de descrever aqui, em frente a uma exposição de flores lindas (especialmente tulipas), e próximo a uma grande fábrica de cerveja que também é um local de visitação.


Você vê bares naturebas, só vendendo suco, e bares pra fumantes, e bares pra não fumantes, e bares com maconha liberada (e no cardápio: forte, fraca ou média? já enrolada ou não?).



Você vê bicicletas, muitas bicicletas, coexistindo com carros. Bicicletas de executivos, bicicletas com lugar pra bebês, bicicletas de esportistas... todos os tipos.



Saímos pra passear num parque num dia normal, de semana e fora de temporada. Várias pessoas caminhando, lendo, bebendo, fumando (produtos legalizados aqui no Brasil ou não). O clima parece um feriado eterno.


No albergue: quartos mistos (homens e mulheres), banheiros mistos (inclusive pro banho). 

Na praça, mictórios públicos nos quais você se alivia vendo o movimento, já que o muro é da altura do peito pra dar pra ver a praça.


Na minha busca por coisas locais, tentei perguntar qual seria a comida típica de Amsterdam e não consegui saber. São tantas coisas de tantos lugares diferentes que os "locais" não entendiam dirteito minha pergunta. Achamos feijoada, por exemplo.


E é um lugar de putaria, desreipestoso? Não... claro que gente bacana e gente mala tem em todo lugar do mundo, mas no geral é um lugar tranquilo. O sexo e as drogas não tem a conotação que têm aqui, é normal. É algo natural do ser humano, então não é visto como sendo marginal. Faz parte, tá integrado. Pra turistas pode ser meio auto-destrutivo, excesso de liderdade tem que vir acompanhado com aumento de responsabilidade, como diria o bom e velho titio do homem aranha.

Um bom lugar... gostaria de voltar algum dia. Quem sabe alugar uma bike e passear pela holanda... ver algum moinho e umas tulipas. 


De novo, só pra reforçar: passei poucos dias lá. É claro que defeitos se vê com o tempo, e é claro que o clima (tempo ensolarado e não muito quente) e a baixa temporada me ajudaram. São impressões extremamente pessoais...




24 janeiro, 2010

Avatar, cinema 3D, Willian Castle & torrents


Avatar

Repensei minhas prioridades e, apesar do preconceito, acabei acatando a sugestão do Rolo e coloquei Avatar na lista dos "a ver". Pensando bem, se for pra ver um filme desse tipo, que seja no cinema e em 3D. Senão nem ia acabar vendo.

O filme? Roteiro fraquinho, mastigado, sem maiores surpresas. Interessante a crítica ao imperialismo e tals, mas achei bem pouco sutil...  Achei um pouco forçada a parte natureba. E achei longo, muito longo... Eu cortaria muito do primeiro ato, e aumentaria um pouco o uso dos efeitos na batalha final, parece que foi feita meio às pressas. Ironicamente, bem num filme 3D os personagens são bem unidimensionais, previsíveis, rasos. A Sigourney  ainda tem uma certa profundidade, dualidade, sei lá... o protagonista é mto ruim hehhe
Normal, esperava isso dum filme blockbuster.

MAAAAS, a imersão causada pelo 3D especialmente cuidadoso e discreto (nada de facas e mandibulas voando para cima da galera) valeu o ingresso (que foi bem caro, aliás). Tem algumas cenas nas quais você se sente parte do filme, como uma ao final em que vários soldados estão sentados ouvindo o general (ou capitão, sei lá): você sentado no cinema se sente um deles. O universo criado ficou bem bacana, bem alienígena mesmo.

Mais um detalhe: mesmo sendo fã de ficção/terror, não me lembro de muitos filmes que mostrem o ser humano como sendo o alienígena invasor... acho que só lembro de um, o Fantasmas de Marte (2001), do John Carpenter, com seu alien "Marilyn Manson".



Cinema 3D versus torrents

Tava pensando (tinha que ter uma viagem no post, claro)... Será que finalmente recussitaram o 3D pra trazer as pessoas de volta ao cinema na era dos torrents? Se foi, parece que funcionou, a fila de ontem que o diga, dando voltas (e a fila pra sessão das 11, logo depois, não tava diferente). Tô curioso pra ver como o Tim Burtom vai usar esse recurso no seu Alice no País das Maravilhas.. . já gosto do visual dos filmes dele em 2D :). 

Será que vão começar a investir em outros valores agregados pra levar as pessoas às salas do cinema? Seria legal...


Um pouco de história

Estava pensando que isso de 3D e tals não é novo, mas não pegou antes. Assisti, por exemplo, o "Freddy's Dead / The Final Nightmare", supostamente o último filme do Freddy Krueger,  em 91, em 3D num cinema em Ribeirão Preto. Eu e mais 3 amigos na sala apenas, foi divertido :) Mais além, o video-game master system já tinha óculos 3D

Posso ir mais longe no tempo, me vem à mente o Willian Castle, papa das produções B (que adoro!) nas décadas de 50/60.

Castle notabilizou-se por inventar uma série de truques para atrair espectadores: criou um seguro de vida para promover Macabro (Macabre, 1958); em Força Diabólica (The Tingler, 1959), colocou campainhas debaixo das poltronas, acionadas nos momentos de maior tensão; para A Casa dos Maus Espíritos (House on Haunted Hill, 1959) inventou um processo chamado "Emergo", que fazia com que esqueletos de verdade circulassem pela sala de exibição; distribuiu óculos que permitiam aos espectadores ver os fantasmas de 13 Fantasmas (13 Ghosts, 1960); em Trama Diabólica (Homicidal, 1961) colocou um intervalo de quarenta e cinco segundos, para que os mais nervosos pudessem ir embora caso quisessem.

Mestre na arte da promoção, Castle dirigiu dezenas de filmes, desde terror e suspense a westerns e séries policiais, mas, ironicamente, seu momento mais importante foi como o produtor de O Bebê de Rosemary (Rosemary's Baby, 1968), dirigido por Roman Polansky.

Enfim, apesar das suas tentativas, não deu certo. Talvez o público não estivesse preparado. Talvez fosse caro fazer essas brincadeiras, sendo que as pessoas iriam no cinema anyway

Tem um filme bacana, Matinee (1993), que faz uma homenagem explícita. através de um dos personagens -  Woolsey (John Goodman), ao Willian Castle,

Tenho expectativas de que ações parecidas venham a ser aproveitadas pelas produtoras num futuro próximo... ou não...






22 janeiro, 2010

Biotech is Godzilla


Hoje acordei com a MTV tocando umas musiquinhas suaves, boas pra começar a sexta-feira: logo de cara, Sepultura, com Territoty. Dai continuei ouvindo Sepultura no caminho, claro, e agora estou em Biotech is Godzilla. Pela primeira vez prestando mais atenção na letra. 


Como eu pelo menos nunca tinha me tocado na letra, resolvi compartilhar. É até moderna pros dias de hoje ainda, com essa onda de conferências sobre aquescimento global, comitês de ética em biotecnologia e etc...


Rio Summit, '92
Street people kidnapped
Hid from view
"To save the earth"
Our rulers met
Some had other
Secret plans

No... no... no... no...

Biotech
Biotech
Biotech
Say what?

Strip-mine the Amazon
Of cells of life itself
Gold rush for genes is on
Natives get nothing

Biotech
Biotech
Biotech
Is Godzilla

Mutations cooked in labs
Money-mad experiments
New food + medicine?
New germs + accidents!
Like Cubatao
"World's most polluted town"
Air-melts your face
Deformed children all around

Bio-technology
Ain't what's so bad
Like all technology
It's in the wrong hands

Cut-throat corporations
Don't give a damn
When lots of people die
From what they've made

Biotech
Biotech
Biotech
Is A.I.D.S.?

Stop!!!

19 janeiro, 2010

Mercadores de sonhos, na lua!


No final de semana deu vontade de ver ficção científica e, depois de uma pesquisada na “blogsfera” e de uma conversa com o Rolo, cheguei a dois candidatos: “Sleep Dealer” e “Moon”.
 
Não me arrependi das escolhas, embora tenha preferido Moon, gostei bastante dois dois.

Ficam aqui as duas dicas... 

Quando eu for vendo filmes bons que não são anunciados na grande mídia, vou ver se começo a deixar as dicas aqui...
 
Sleep Dealer

Ficção meio Low Budget de um (acho que) mexicano chamado Alex Rivera. Ganhou dois prêmios em Sundance, como bom low-budget que é. Mistura um pouco alguns conceitos de Matrix e acredito que até de Blade Runner, com blogs e redes sociais, mas a idéia central me pareceu fazer uma crítica social através de uma sociedade futura fictícia. Em dado momento um personagem diz que os Sleep Dealers seriam o sonho americano: ter mão de obra barata dos latinos fazendo o trabalho pesado, mas sem precisar da parte ruim que seria ver essas pessoas. Interessante um filme de ficção científica futurística começar mostrando uma região seca e pobre do México, sem nada muito high tech. Sempre acho uma experiência legal ver bons filmes que não sejam estadunidenses. Não tenho nada contra os filmes americanos, que fique claro (são os que mais assisto), mas como justamente é o que mais vejo, é legal sair da rotina vendo algo além, feito em outra cultura, falando outras linguas, essas coisas...

 
Moon

Estréia (de novo, “acho que”, preguiça de fazer buscas na net hoje) do filho do David Bowie no cinema. Também faturou uma estatueta, mas no Festival de Cinema de Edimburgo. Filme de suspense, meio tenso, que mostra um pouco da vida de um funcionário que tem q ficar 3 anos sozinho na lua, apenas acompanhado de serventes computadorizados com os quais se forma uma relação de amizade. Achei muito massa as expressões do robô Gerty serem criadas apenas com “emoticons”, mesmo assim dá pra pegar legal o que ele sente (sente?). Provavelmente a atuação dele é melhor do que a do Seagal hehhe. Aliás, falando em atuação, Sam Rockwell segura legal o filme atuando sozinho (ou não) o tempo todo, tendo apenas a voz do Kevin Spacey como companhia. Mas voltando ao enredo... depois de um tempo, esse personagem acha que não está sozinho. Deve ser imaginação, ou não heheh. A trilha sonora do Clint Mansel (sempre gosto das trilhas dele) é eficiente. Aliás, praticamente não há músicas no filme (digo, uso de músicas de verdade, além da trilha composta para as cenas). Em sendo do filho do Bowie, eu tava com esperanças de ouvir um “Life On Mars”, "Ziggy", ou um “Major Tom”. Pensando bem, talvez isso fosse muito óbvio. Muita referencia a 2001, muita mesmo, e um pouco a Solaris e um pouquinho ao Alien. (<SPOILER ALERT>, não continuem se forem sensíveis a alguém estragar as surpresas). Indiretamente, o filme faz reflexões sobre clonagem humana, direitos de organizações sobre clones criados para determinado fim. Interessante que os clones têm personalidades diferentes (tanto em quanto são "nervozinhos" quanto no lance de desejarem ir pra cidades bem diferentes caso voltem pra terra). Gostei também da brincadeira com o HAL do 2001: enquanto no 2001 você vê uma inteligência artificial se deturpando até se tornar o vilão, aqui você vê uma visão menos pessimista com o Gerty se humanizando e ajudando o protagonista.

16 janeiro, 2010

O método do opressor

De tanto ver agir o opressor, na hora em que o homem tem oportunidade de ser protagonista da História ele age igual ao opressor porque não conhece outro método.

Paulo Freire

14 janeiro, 2010

Inferno

Comentário do  Vincent Liopard em um outro post, que acabou de ser promovido a post:


"- O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço."
(Marco Polo)

13 janeiro, 2010

Solidariedade e conhecimento

A motivação para este post veio com a notícia da morte de Zilda Arns em Porto Príncipe no Haiti. Zilda Arns é a fundadora da Pastoral da Criança, mas o que mais me adimirou nela foi sua ideologia:
Em 1983, a pedido da CNBB, criou a Pastoral da Criança juntamente com dom Geraldo Majella Agnelo, arcebispo primaz de Salvador da Bahia e presidente da CNBB, que à época era arcebispo de Londrina. No mesmo ano, deu início à experiência a partir de um projeto-piloto em Florestópolis, Paraná. Após vinte e cinco anos, a pastoral acompanhou 1 816 261 crianças menores de seis anos e 1 407 743 de famílias pobres em 4060 municípios brasileiros. Neste período, mais de 261 962 voluntários levaram solidariedade e conhecimento sobre saúde, nutrição, educação e cidadania para as comunidades mais pobres, criando condições para que elas se tornem protagonistas de sua própria transformação social.
Wikipedia
Sua obra é baseada na disseminação do conhecimento, o que faz com que um determinado problema de uma comunidade seja resolvido pela própria comunidade. É o que eu definiria como autoconhecimento social, onde um indivíduo conhece e se entende nesse meio social.

Durante muito tempo me perguntei: "Porque fazer trabalho voluntário, se minha ação é tão ínfima perto do problema todo?". Me vejo agora como um pequeno contribuidor, que espalha um pouco de seu conhecimento que, muitas vezes, será melhor aproveitado por outras pessoas. O que é mais difícil de se compreender é que com eu não sinto nenhuma realização ao fazer isso, nem sinto qualquer satisfação, muito menos obrigação. Tirei minha conclusão a partir do artigo de Zilda no Wikipedia:
"Neste período, mais de 261 962 voluntários levaram solidariedade e conhecimento ... criando condições para que elas se tornem protagonistas de sua própria transformação social."


Agora sim, sinto-me satisfeito, devido ao conhecimento que recebi de Zilda, assim como das pessoas dentro das comunidades que conheci: completa-se então a disseminação do conhecimento, a superioridade enrustida esvaiu-se, fica a consciência e, finalmente, o "autoconhecimento social".

12 janeiro, 2010

O Massacre da Serra Elétrica e o inconsciente coletivo


Antes de continuar esse texto, me responda o seguinte... tá bom, não me responda, mas pense: "O que você achou do filme O Massacre da Serra Elétrica?"
"O filme que verão é baseado na tragédia que assolou um grupo de cinco jovens, especialmente Sally Hardesty e seu irmão inválido Franklin. Foi mais trágico devido ao fato de serem jovens. Mas, se eles tivessem vivido muito, muito longas vidas, jamais teriam esperado ou desejado ter visto a loucura e o macabro que viram naquele dia. Para eles, um passeio de carro num verão à tarde tornou-se um pesadelo. Os acontecimentos daquele dia guiaram o descobrimento de um dos mais bizarros crimes nos anais da história norte americana, O Massacre da Serra Elétrica"

Depois vem a genial abertura dos flashs fotográficos... A tela escura provoca arrepios no espectador, que ouve sons estranhos mas nada vê - algo que, quase 30 anos depois, seria usado também "originalmente" em "A Bruxa de Blair" (que também tem em comum ser barato e ter faturado muito). A  intensidade vai crescendo, e os sons, até que uma voz de rádio ao fundo fala sobre vandalismos em um cemitério do interior do Texas. Acabou a sutileza: Um cadáver aparece sentado sobre uma lápide, como se Hooper (o diretor, Tobe Hooper, by the way)  falasse: "Fudeu, agora começa a viagem direto ao inferno".

Assim começa esse clássico do terror, O Massace da Serra Elétrica (1973). 

Mas, talvez se tiver alguém lendo, esteja se perguntando: "cadê o inconsciente coletivo?"

Já chego lá, mas ele reside no seguinte aspecto: assim como outros filmes do período, como o ótimo (e recém regravado) The Last House on the Left (1972), de Wes Craven (que nos brindou depois com Freddy Krueger) e Halloween (1978), de John Carpenter (que nem precisa apresentar), "O Massacre da Serra Elétrica" não se entrega a mortes sem sentido e a sustos banais. Passam-se quase 50 minutos até que a primeira morte ocorra.

Disse o produtor executivo, Brad Fuller:

“A primeira concepção errada do original foi ele ter sido considerado um filme que destilava sangue. O filme tinha momentos bastante perturbadores, mas, só quatro segundos de sangue. Ele era mais aterrorizante, conceitualmente, do que visualmente."

E provavelmente esse aspecto torna esse um grande filme. É claro que tem violência explicita sim, mas são... hmm..  cenas de sangue com alto teor de terror psicológico. E a tal da serra elétrica não aparece até quase o final do filme.

De novo, cadê o inconsciente coletivo?

Pronto, cheguei: um amigo, o Jundiai, apontou outro dia que a maioria das pessoas acredita que já assistiu O Massacre da Serra Elétrica, e acredita que é um filme cheio de sangue e de motosserras cortando pessoas. Tentei tirar a prova e sai perguntando pra conhecidos e colegas de trabalho o que achavam do filme, e é verdade. A grande maioria não gosta, por ter muito sangue e muita gente cortada por motosserras. Dai se continuo apertando, descubro que não assistiram.  Tenho até minhas dúvidas de que esse filme tenha alguma vez sido exibido no Brasil (seja cinemas ou TV), alguém sabe?

Mas as pessoas com quem conversei e o modo como falaram me levam a acreditar que foi inconsciente, não foi uma mentira no sentido estrito da palavra. Por algum motivo elas simplesmente acreditavam que tinham visto.

Façam o teste qualquer dia e postem aqui os resultados.

Me pergunto o porquê...

Uma coisa que me veio à mente é que talvez a comédia "Curso de Verão" (Summer School, de 1987)  que passou muito na nossa sessão da tarde tenha a ver. Ela mostra dois alunos, Francis “Chainsaw” Gremp e Dave Frazier,  viciados em terror,  mais especificamente nesse filme, e mostra muito sangue falso criado por esses dois pra assustar os professores.

Ou não, é apenas pelo nome mesmo...

Antes que me esqueça, créditos de boa parte das informações e do texto ao ótimo site Boca do Inferno.

Recomendação: fuja da regravação e das continuações, quase todos os elogios ao modo como foi feito o original se perdem...



O terror e as origens do cinema


Quem me conhece sabe que tenho um carinho especial pelo cinema fantástico e de terror, quem não me conhece acabou de saber disso agora.

De qualquer forma, há alguns anos, durante uma palestra sobre filmes de terror que fiz pra uma turma em aula de inglês, cheguei a uma conclusão. Aliás, essa conclusão foi elaborada durante a apresentação em si e não ao prepará-la, então não estava escrita em nenhum lugar até agora, embora eu a tenha apresentado no dia pra galera da aula.

E essa tal de conclusão é: Ao contrário do que leio normalmente, que coloca o gênero terror como surgido na década de 60 (cópia da Wikipédia abaixo), acho que provavelmente o terror surgiu junto com o cinema, sendo parte da primeira projeção pública.

Senão vejamos... quanto ao gênero de terror:

O gênero ficcional do terror ou horror existe em qualquer meio de comunicação em que se pretenda provocar a sensação de medo. Desde a década de 1960 que qualquer obra de ficção com um tema mórbido ou repelente são conhecidos do público como um gênero à parte, com grupos de fãs muito específicos que rendem culto a subgêneros ou a determinados filmes e literatura a eles associada. Este gênero está intimamente ligado à ficção fantástica e à ficção científica. O medo é a fonte dos filmes de terror. Alguns especulam ser um dos sentimentos que mais faz as pessoas se sentirem vivas e livres.
(Wikipédia)
Agora, quanto ao início do cinema:

Auguste Marie Louis Nicholas Lumière (Besançon, 19 de outubro de 1862 — Lyon, 10 de abril de 1954) e Louis Jean Lumière (Besançon, 5 de outubro de 1864 — Bandol, 6 de junho de 1948), os irmãos Lumière, Louis e Auguste eram ambos engenheiros e foram os inventores do cinematógrafo (cinématographe), sendo por isso freqüentemente considerados os fundadores da Sétima Arte junto com Georges Méliès, um ilusionista também francês, este tido como o pai do cinema de ficção. Em 28 de dezembro de 1895 acontece a primeira projeção pública de cinema, e essa tem como grand finale a apresentação do filme “L’Arrivée du Train em Gare”, que mostra um trem vindo no sentido da platéia. Descreve-se que tal foi o susto dos espectadores dessa primeira sessão ao verem um trem vir em direção a eles, que se instalou o pânico. Levantaram-se aos gritos e desviaram-se do caminho, com medo que o trem lhes passasse por cima.  (Wikipedia)

Veja bem: se classificarmos o cinema de terror como um cinema no qual o sentimento motivador é o sentimento de terror, de medo (e não como um cinema baseado em monstros e fantasmas), então muito provavelmente esse foi o sentimento despertado na platéia durante a projeção de 1895 (eles fugiram, de pânico), e que causou tanto frisson entre o público.

Note-se também que o terceiro pai do cinema está associado ao ilusionismo e à ficção (gênero esse que anda de mãos dadas com o terror).

É isso :)



10 janeiro, 2010

Je pense, donc je suis... ou, sobre o nome...

Ontem recebi do Sangue, uma pessoa que respeito muito, um elogio sobre o nome do blog. Dai resolvi compartilhar um pouco das motivações pra quem não é tão chegado em filosofia. Tirem suas próprias conclusões,  com um pouco de wikipedia pra ajudar:

Cogito, ergo sum significa "penso, logo existo"; ou ainda Dubito, ergo cogito, ergo sum: "Eu duvido, logo penso, logo existo" é uma conclusão do filósofo e matemático francês  Descartes alcança após duvidar de sua própria existência, mas a comprova ao ver que pode pensar e se está sujeito à tal condição, deve de alguma forma existir.

Descartes pretendia fundamentar o conhecimento humano em bases sólidas e seguras (em comparação com as fundamentações do conhecimento medievais). Para tanto, questionou e colocou em dúvida todo o conhecimento aceito como correto e verdadeiro (utilizando-se assim do ceticismo como método, sem, no entanto, assumir uma posição cética). Ao pôr em dúvida todo o conhecimento que, então, julgava ter, concluiu que apenas poderia ter certeza que duvidava. Se duvidava, necessariamente então também pensava, e se pensava necessariamente existia (sinteticamente: se duvido, penso; se penso, logo existo). Por meio de um complexo raciocínio baseado em premissas e conclusões logicamente necessárias, Descartes então concluiu que podia ter certeza de que existia porque pensava.

A frase "Cogito, ergo sum" aparece na tradução latina do trabalho escrito por Descartes, Discours de la Méthode (1637), escrito originariamente em francês e traduzido para latim anos mais tarde. O trecho original era "Puisque je doute, je pense; puisque je pense, j'existe" e, em outro momento, "je pense, donc je suis". Apesar de Descartes ter usado o vocábulo "logo" (donc), e portanto um raciocínio semelhante ao silogismo aristotélico, a idéia de Descartes era anunciar a verdade primeira "eu existo" de onde surge todo o desejo pelo conhecimento.



Gostei da variação "Dubito, ergo sum". Um pouco de ceticismo controlado vai bem, ou não.


Outro dia ouvi outra: "Cogito, ergo desisto". Essa deve estar mais pra um cinismo controlado, ou não.

Tudo é relativo, ou Hardcore

Liguei a TV na MTV agora e está passando aquele Lab Toca Ai, no qual uma banda ou músico apresenta uma série de clips conversando um pouco entre um e outro.  Hoje tá o NX Zero e peguei um trecho mais ou menos assim, ao acaso:

Tocaremos agora um hardcore, talvez a primeira banda hardcore e underground a fazer sons falando em português e sobre o Brasil.

Até parei o que tava fazendo pra ouvir, cogitando: "será que os caras têm influência de Sepultura, Ratos de Porão ou algo assim?".

Ledo engano, veio um clip do CPM22.

Acho que vou continuar assistindo por curiosidade mórbida... O Auro tá dizendo que duvida que eu consiga...

09 janeiro, 2010

O gene capitalista & a responsabilidade da mídia



Recentemente a revista Veja publicou uma matéria chamada O Gene Capitalista, na qual entrevistava um economista chamado Gregory Clark e apresentava algumas idéias como estas, chamando-as de científicas:
 

“"Não tenho dúvidas de que existe um gene capitalista", disse Gregory Clark à VEJA. "No futuro, a ciência será capaz de selecionar indivíduos com base nele."”

“Os economistas acreditam que, para um país crescer, basta dar incentivos às pessoas. Meus estudos indicam o contrário. As características da população são mais relevantes para a economia do que instituições sólidas, proteção aos direitos de propriedade e governo reduzido.”

“A genética de uma população determina se um país será rico ou pobre. Os aborígines australianos, por exemplo, que nunca experimentaram um sistema semelhante a uma economia de mercado até a chegada dos europeus, são incapazes de competir economicamente. Também não há muita coisa que um governo possa fazer para desenvolver um país como o Brasil.

“Para o autor, é a escassez de indivíduos adaptados cultural e geneticamente à economia de mercado que explica a pobreza de regiões como África e América do Sul. Interessante.”

Eu acho falta de responsabilidade uma revista com a penetração da Veja, baseando-se em uma “pesquisa” (já chego no ponto que tenta justificar essas aspas) de determinada pessoa, publicar frases de efeito como: negros não menos produtivos que brancos e isso está provado geneticamente, que as empresas deveriam levar isso em conta, ou que não há muita coisa que um governo possa fazer para desenvolver um país como o Brasil.

Discutir o tema num ambiente acadêmico ou mesmo num buteco, sem chamar de verdade ou de prova, va lá. Mas publicar num meio de massa, e com esses termos? Ainda mais sabendo que a linha editorial é muito forte e escolhe muito bem o que sai e o que não sai, acho no mínimo de mau gosto.
 

Quanto ao fato publicado em si, tenho pessoalmente algumas ressalvas em falar de determinismo a esse ponto. Essas ressalvas são pessoais e não são ciência, mas enquanto ambas as correntes não são ciência e sim teorias, escolho as minhas de acordo com meus valores,  convicções e esperanças. 

Que fique claro que sei que o conhecimento da biologia e da genética são importantes, especialmente para tratamento de doenças, etc, etc. Mas temos que ter cuidado em não fazer da genética a próxima religião que prova tudo e determina tudo. Agora, o que esse cidadão faz é praticamente uma eugenia aplicada ao capitalismo. Ridículo. 

Se fossemos todos tão determinados pela genética, viveríamos em um sistema de castas - ou melhor, quase como numa colméia - com tarefas distintas e sem mobilidade social alguma. Aliás, o próprio conceito de evolução baseia-se em mudanças nessas predeterminações genéticas que às vezes ocorrem para o bem.

Mas o que mais me intrigou aqui não é nem o fato “descoberto” pelo cara em si, mas sim o método científico utilizado por esse economista para depois chegar a conclusões absolutas que usem os termos genética, pré-determinismos, foi provado, etc.

Olhemos com um pouco mais de cuidado a pesquisa do cara:
 

-> Os ingleses produziam mais no tear do que os indianos. Blargh... É óbvio que os ingleses costuravam mais e melhor porque estavam inseridos na cultura que inventou a máquina de costura, enquanto os indianos culturalmente eram mais afeitos ao artesanato. Os ingleses estavam mais adaptados à maquinaria. Se fosse o contrário? Extrapolando com algo que não estava na pesquisa do cara, por que os indianos são tão bons em matemática e em TI hoje em dia? Muito provavelmente tem alguma influencia o fato de que durante o período colonial, não podiam estudar humanidades, para evitar a ascensão de camaradas como o Gandhi. Não está necessariamente no gene deles, caso contrário eles teriam sido os inventores da contabilidade, do sistema bancário,  e coisas assim.
 

-> Outro dado interessante é que, com base nesse argumento genético, ele responde a uma das perguntas afirmando que o Brasil não teria jeito. Além de falar sobre ingleses, chineses, etc... Desde quando "Brasileiro" é uma raça, de modo a estarmos geneticamente determinados ao fracasso desse jeito? Nacionalidade == etnia agora?
 


-> Por fim, mas não menos importante, como ele tira conclusões genéticas de estudos estatísticos sobre o comportamento das pessoas e sobre as formas de acumulo de capital? Mais especificamente, sobre um estrato populacional entre os anos 1200 e 1800??? Como ele analisou os genes destas pessoas? A partir do seu comportamento? Então ele simplesmente criou uma premissa que é ao mesmo tempo dado e conclusão de pesquisa. A relação causal não fica clara no argumento dele. Seria algo como: “partindo do pressuposto de que eu estou certo, vou dar uma volta retórica e provar pra vocês que eu estou certo”.

Onde está Lévi-Strauss, nessa história toda?
 

E eu, particularmente, não quero chegar pedindo um visto para, sei lá... Europa... algum dia e me barrarem porque descobriram que algum ancestral meu foi assaltante... Ou que uma empresa não me contrate porque, como provou o Sr. Clark, os gens dos brasileiros (WTF?) estão fadados ao fracasso dentro da sociedade capitalista.
 

E uma revista que publica isso, mesmo com toda essa "ciência", perde um pouco do meu respeito.






Diário de Bordo: Polônia


Polônia

Vou estreiar uma tag nova, "Diário de Bordo", pra viajar sobre viagens realizadas. E nesse post inicial vou tentar um belo exercício de memória já que escreverei um pouquinho de minhas impressões sobre a Polônia, onde estive em 2001. Na época mandei muitos e-mails com uma espécie de diário, mas perdi todos, depois peço pra alguém que os recebia me enviar, dai refresco a memória.



De qualquer forma, foi uma experiência interessante, tanto em termos de viagem quanto em termos de testar nossos limites, até onde dá pra ir apenas com vontade. Me deu vontade de viajar, testar meu inglês, conhecer o mundo, essas coisas. Fiquei um ano na faculdade com apenas uma disciplina no primeiro semestre e nenhuma no segundo, dai deu pra juntar grana. Depois parti com minhas malas improvisadas rumo a Varsóvia, pra ficar uns 4 meses trabalhando em simulações computacionais implementadas em C/C++ para o departamento de física nuclear da Universidade de Cracóvia.


12 horas depois de partir do aeroporto de Guarulhos me vi andando por Varsóvia com várias malas na mão e um Discman emprestado do Giu tocando R.E.M dai que caiu a ficha da loucura que tinha feito. 

Varsóvia me pareceu meio feia, um pouco fake. Mas não tinha mais jeito, sai me virando com mímicas e pseudo-inglês e umas 7 horas depois estava eu chegando na moradia da univerdidade de Cracóvia, já umas 23:00. O pessoal da recepção não entendia patavinas de inglês e não tava saindo nada da nossa tentativa de conversa, quando aparece um grego, o Kostas, e me ajuda a me instalar (passando antes num Pub). Ficamos amigos desde então e até o visitei ano passado em Atenas.


Bom, se continuar nesse nível de detalhe vou escrever um livro (foram meses lá), então lets make the long story short:


Varsóvia
Me pareceu chata, uma São Paulo com alguns prédios reconstruídos como se fossem medievais. Não gostei. Recentemente recebi esse link do Rolo e me arrependo um pouco. Acho que se eu tivesse mais conhecimento, aproveitaria mais a cidade.

Cracóvia


Maravilhosa! Uma cidade linda, com pessoas receptivas, castelos medievais, ótimos pubs (contamos mais de 120 ótimos pubs só em volta da praça central), ótima universidade. Tá certo que convivi num meio à parte, que era o de uma boa universidade, mas a impressão que me deu é que o empenho dos poloneses em crescer, aprender, evoluir era enorme. Peguei a cidade com não muitos anos pós comunismo, e ainda fora da comunidade européia e já via neles uma sede de cultura e aprendizado que não via aqui na Unicamp. Mesmo que os  mais velhos tivessem relutância em usar inglês (ainda resquícios de quando era proibido), por exemplo, os mais jovens, na média, falavam muito mais que aqui. Queriam aprender sobre o nosso país, coisas assim.


Auschwitz-Birkenau


Nada bonito ver os campos de concentração nazistas. Clima pesado, bem pesado. Duas fábricas de morte e tortura gigantes (o mesmo que se vê na abertura do X-Men heheh). Mas daí você pensa mais a fundo no que foi tudo aquilo... ouvir nas aulas de história é diferente de ver do que o ser humano é capaz. E está pertinho da gente temporalmente também: meu orientador lá me disse que nunca tinha ido porque sua família foi morta e torturada lá então ele não conseguiria. A gente vê essas coisas meio em perspectiva... 

Não era bem nessa cidade, é em Cracóvia, mas vai aqui mesmo: conheci também o bairro judeu (onde gravaram A Lista de Schindler) e é interessante ver que um pais católico como a Polônia acolheu outras crenças/etnias mesmo pagando caro ao se defendender. E é bonito ver como os guetos resistiram desde o início da ocupação e, se não conseguiram resistir em armas, resistiram na cultura, literalmente undergroud, preservando a língua e os costumes na forma oral e/ou na forma de "fanzines" (que dá pra ver em alguns museus - falando em museus, vi meu primeiro Da Vinci lá).


Uma coisa que me veio à cabeça foi que na Ilha Grande, aqui no Brasil, destruíram o presídio pra que ninguém se lembre do que ocorre. Lá, em Auschwitz, mantiveram os campos de concentração intactos e colocaram uma placa: "Aqueles que não aprendem com a própria história estão fadados a vivê-la novamente".


Amizades


Nem tem como escrever tanta gente que conheci. Basta dizer que uma viagem em 2001 rende amigos que existem até hoje, alguns dos quais já fui visitar, outros que já vieram e outros que pretendo rever algum dia. De várias partes do mundo, com várias culturas diferentes. Aliás, eu era o único latino lá e chegaram a me perguntar se aqui no Brasil era comum ver negros nas ruas, louco né?


Aprendizado
Aprendi muitas coisas:


- Fronteiras são limites inventados que não significam muita coisa. Sai da viagem com uma ressalva quanto a dois tipos de opiniões: (a) aqueles que dizem que "O Brasil é o melhor país do mundo, temos as melhores paisagens, temos as melhores praias, as melhores mulheres" (aliás, as polonêsas são maravlhosas) e também quanto aos que dizem (b) "Brasil é uma merda, o negócio é ir pra fora". Pra mim, coisas bonitas são coisas bonitas e gente interessante é gente interessante, não interessa a classificação geográfica do território onde essas pessoas e coisas se encontram (um comentário à parte: em 2008 visitei uma amiga da Ioguslávia, mas então não existia mais Ioguslávia e ela era sérvia. Por incrível que pareça, ela era a mesma pessoa). Coisas certas e coisas erradas existem em todo ludar, aprenda a lidar com isso e aproveirar aquelas, rejeitando essas.



- Quem tem boca vai a Roma. Depois que eu (sem grana, sem mochila, sem experiência, sem idade, e sem falar a lingua) viajei pro outro lado do mundo, acho muito estranho quando alguém fala: "Poxa, até queria ver esse show mas é em São Paulo... como chegarei lá? Não tem nem google maps". Fuck off... com vontade você faz quase tudo.


- Nossas faculdades são ótimas. Assisti a algumas aulas e a uma prova junto com meu orientador, a princípio era pra ajudar ele, mas não rolou muito. E olha, nossas aulas técnicas aqui na Unicamp são muito melhores e aprendemos muito mais a fundo. Fui convidado pra um mestrado, mas não me interessava muito por vida acadêmica. Pena que aqui, apesar das aulas técnicas serem melhores, há menos interesse por coisas fora da área por parte dos alunos. Poderíamos aproveitar até mais nossa vida universitária.


- Não sou ET (acho): vi que muitos de meus hábitos e gostos, que aqui me faziam ficar meio alienado, são compartilhados por outros. Nem vou evoluir essa discussão aqui, que daria um tópico à parte, mas por exemplo:
-> o pessoal conhecia mais Sepultura e Ratos de Porão do que Pelé.
-> o pessoal não dirigia bêbado por consiência, e não por medo multas.
-> comia-se sem arroz e feijão.
-> ski tinha tanta platéia quanto futebol na hora de assistir TV

-> etc, etc, etc



08 janeiro, 2010

Listas: Shows que quero ver

Shows que pretendo ver algum dia,começando com uns poucos que me lembro, depois vou atualizando (ou não).


Beastie Boys

Rage Against the Machine
R.E.M.
Weezer
Who

Listas: Shows que vi

Da série listas: Shows que vi. Se lembrar mais vou atualizando. Negrito pros melhores. Negrito e sublinhado pros mais melhores:

Alceu Valença
Almir Sater
Arnaldo Antunes
Bob Dylan
Cordel do Fogo Encantado
Deep Purple
Doors
Elba Ramalho
Faith No More
Funk Como Le Gusta
Flaming Lips
Helloween
Hermeto Pascal
Iggy Pop
Infectious Groove
Iron Maiden
Ivan Vilela
Jane's Addiction
João Bosco
Karnac
Kraftwerk
Letuce
Leo Maia
Los Hermanos
Marilyn Mason
Marisa Monte
Motorhead
Móveis Coloniais de Acaju
Mutantes
Nação Zumbi
Patofu
Radiohead
Rage Against The Machine
Raimundos
Ramones
Red Hot Chilly Peppers
Rita Lee
Rolling Stones
Rogério Skylab
Scrutinizers
Sepultura
Sepultura + Orquestra experimental de câmara
Sonic Youth
Teatro Mágico
The Mars Volta
Titãs
Zé Ramalho

Shows & rituais...


Como adoro música, vem de lambuja o fato de gostar de shows. Mas no ano passado cheguei a uma conclusão: não é mais minha praia aquele lance de sentir algum prazer especial pelo simples fato de estar presente em um show. Sabem aquele prazer meio ritualístico ou mítico: “Estive presente no show do ACDC!!” ??

Acho que já tive esse tipo de pensamento, provavelmente gostei de muitos shows no passado devido a essa realização mítica. Mas ano passado fui a alguns shows e isso não bateu.

Adorei, por exemplo, o show do Doors (os puritanos vão me atacar por falar isso e por ainda chamar a banda de "Doors"), mas gostei. Fomos em Ribeirão Preto, num show bem organizado, sem correria, sem super filas, cerveja e banheiro com fácil acesso. Os caras tocaram pertinho da gente, mó esquema show roots mesmo, sem efeitos nem iluminação.
Gostei também de ouvir o Sepultura de pertinho sentado no chão em estilo pic-nic recentemente no Maquinaria Festival.

Agora vem a bomba: não gostei do Radiohead. Adoro a banda e eles tocaram demais. Mas era um aperto, fácil se perder dos amigos, difícil estacionar, difícil conversar, difícil comer. Gente chata reclamando, gente xingando o show do Kraftwerk (que achei o máximo). Na hora de ir embora são horas esperando a fila do estacionamento. Por ai vai. Enfim: o simples fato de “vi Radiohead ao vivo! U-hu!” não me bate mais.


(Link pro Blog da Alícia)


Inserindo uma indicação totalmente aleatória: indico o “Forró da Lua Cheia” em Altinópolis. Aliás, apesar do nome, não são shows de forró. Dêem uma olhada que vale a pena.

Twitter, Saramago, Orwell e um texto de mais de 140 caracteres



Começando com um texto longo, pra provocar...


Perguntaram pro Saramago, numa entrevista: "O senhor acompanha o fenômeno do Twitter? Acredita que a concisão de se expressar em 140 caracteres tem algum valor? Já pensou em abrir uma conta no site?"
SARAMAGO: Nem sequer é para mim uma tentação de neófito. Os tais 140 caracteres reflectem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido.
Pararam pra pensar nisso a fundo, analiticamente? E em relação a outras coisas surgidas recentemente como o miguxês e afins? Será que mais uma vez, a vida imita a ficção? Lembram da Novilingua, do Orwel:

Newspeak is a fictional language in George Orwell's novel Nineteen Eighty-Four. In the novel, it is described as being "the only language in the world whose vocabulary gets smaller every year". Orwell included an essay about it in the form of an appendix in which the basic principles of the language are explained. Newspeak is closely based on English but has a greatly reduced and simplified vocabulary and grammar. This suits the totalitarian regime of the Party, whose aim is to make any alternative thinking — "thoughtcrime", or "crimethink" in the newest edition of Newspeak — impossible by removing any words or possible constructs which describe the ideas of freedom, rebellion and so on. One character says admiringly of the shrinking volume of the new dictionary: "It's a beautiful thing, the destruction of words."

Complicado, né? Como computeiro, reluto em entrar numa de uma "demonização" da tecnologia ou algo do gênero, mas é legal refletir um pouco. Cada vez mais vejo, nas listas de discussão de e-mail com muitos participantes, que textos longos e analíticos não são considerados. Muitas vezes vejo pior, que a única argumentação aceita é aquela baseada em ataques ad hominem ou em piadas.

Daí vem o gancho pro twitter do Saramago acima. Twitter na verdade é apenas um exemplo, que resolvi usar devido à limitação de caracteres. Não que ele seja o cerne da discussão ou a causa dessa relutância em argumentações longas. Talvez seja justamente uma conseqüência.

Mas me intriga um pouco a questão dos tais 140 caracteres. Sabemos que não é uma limitação técnica. O que é então?

Parece que as novas tecnologias de comunicação e informação “dobraram” (pra usar um termo à lá Star Trek) o tempo e o espaço como os conhecíamos. Na idade média o ritmo de vida das pessoas era regulado pelas estações e pelo clima. Na revolução industrial, pelos horários das fábricas. Agora, pela internet: podemos nos relacionar sem restrição de espaço e em tempo praticamente real.

Parece-me que está se perdendo a disciplina física e mental que exigia que a comunicação escrita tivesse determinadas particularidades, uma dinâmica própria. Salvo nobres exceções, não se escreve mais na internet na forma de teses (em um sentido amplo, de criação de um texto argumentativo), mas sempre como uma conversa que ocorre em tempo real, onde a capacidade de ser enfático é importante, e onde recursos de retórica (generalizações, ataques pessoais, "falácias ecológicas", piadinhas, apelo ao senso comum, etc) são menos sofisticadas do que em textos escritos “da minha época”.  Eu, que às vezes já sou dinossauro pra maioria, tinha uma amiga com a qual só me comunicava por cartas (depois que ela foi pra longe), isso durou muito e eram textos muito legais. Depois da invenção do e-mail nossa comunicação foi diminuindo até morrer. Louco, né?

Perdeu-se aquela tradição, sei lá, da oratória e da retórica clássicas, da dialética, de alternância (tese - réplica - tréplica). Muitas vezes as "discussões" são decididas na força bruta.

Será, então, que a técnica não estaria ajudando a enterrar a parte ritual da argumentação? Ou será apenas que algumas pessoas tenham se adaptado melhor (ou resistido menos?) ao novo contexto sócio-cultural-econômico?

Minha irmã respondeu a essa discussão toda assim:

... sou uma "hibrida" que vive entre os grandes livros e pequenos blogs (que ainda não conseguiu simpatizar com o twiter...mas isso é "gosto", será?) e vivemos assim, "dialeticamente" tentando fugir dos "colonialismos metais" e se "individuar" num mundo "massificante" e "moderno liquido"....

hahhah, uma brincadeira com nossos queridos jargões de humanas, aliás que acho muito úteis para pensar a sério...
Termino expressando uma dúvida: quantos será que leram toda essa viagem até o fim? Quantos pararam nos primeiros 140 caracteres?

Fico por aqui pra iniciar esse blog. E não se assustem, como não há lógica, a próxima entrada pode ter menos de 100 caracteres.