09 fevereiro, 2010

Uma visão menos romântica do software livre


Uma vez recebi da minha irmã um paper discutindo sobre como as parentes estão acabando com a inovação. Em verdade não concordei com os argumentos no geral, tinha um contra argumento a quase tudo hehhe

Mas eram contra-argumentos aos pontos levantados pelo paper, não sei ao certo se as patentes barram a inventividade ou não. Acho que, sendo bem pragmático e um tanto cético, se inseridas na sociedade capitalista moderna, elas acabam ajudando. Explico:  as empresas detentoras do poder financeiro acabam decidindo onde investir seu rico dinheirinho, e se elas não tiverem nenhuma segurança de conseguir vantagens competitivas com o resultado das pesquisas, talvez deixassem de gastar milhões nessas pesquisas. Não é muito justo, ético, nem cheio de arco-iris, mas parece ter sentido.

De qualquer forma, tô divagando, e a opinião acima ainda é bem inocente, admito. Preciso pensar mais nesse assunto. O que me leva ao motivo do post.

Esse tal paper que li termina com algumas conclusões, uma das quais cita o movimento de software livre como uma alternativa libertária para as patentes. Um exemplo de sucesso de pessoas sem interesses pessoais e compartilhando informações.

Acho essa visão romântica, pelo menos um pouco. Será que IBM, Sun, Google, Mozila e tantas outras tão gerando sofware livre por caridade?

Sobre esse ponto que resolvi refletir aqui (que ponto mesmo? software livre como sendo exemplo de salvação num mundo de patentes malvadas), só pra alfinetar um pouco. Trabalho com software livre há alguns anos, e pra empresas grandes, e em comunidades bastante ativas. Então nesse ponto consigo opinar com um pouco menos de inocência.

Qual o objetivo, em última instância, de uma patente? Em termos menos técnicos da wikepedia é isso (no site do INPI tem a definição legal)


Uma patente, na sua formulação clássica, é uma concessão pública, conferida pelo Estado, que garante ao seu titular a exclusividade ao explorar comercialmente a sua criação. Em contrapartida, é disponibilizado acesso ao público sobre o conhecimento dos pontos essenciais e as reivindicações que caracterizam a novidade no invento.

Os direitos exclusivos garantidos pela patente referem-se ao direito de prevenção de outros de fabricarem, usarem, venderem, oferecerem vender ou importar a dita invenção.

Ou seja: em troca de tornar público o projeto da invenção, o detentor da patente pode utilizar exclusivamente, e por um tempo determinado, de sua invenção no sentido comercial. Só o inventor pode ganhar dinheiro com a invenção, por um tempo pelo menos. E ele tem também garantido o reconhecimento de sua autoria.

Como fica com o software nessa história? Muda de legislação pra legislação, mas no Brasil, por exemplo, não se patenteia software. Tá aqui a
lei de patentes diretinho do site do planalto, pra checarem. Olhem o artigo 10, parágrafo 5.

No fundo, por mais que se tenha ótimas intenções em muitos casos, o que você ganha ao tornar seu software livre, em troca de divulgar seu código? Reconhecimento como autor e pode até garantir que ninguém vai usar seu software para ganhar dinheiro. Mas aqui de graça, diferente da patente que é paga.


Ou seja: de certa forma, as mesmas garantias de uma patente: em troca de divulgar o que foi inventado, você ganha a autoria e a possibilidade de que ninguém faça dinheiro com aquilo.

E acaba ganhando mais: uma legião de "fiscais" que, nessa visão inocente do software livre, acabam sendo muito ativos ao te ajudar a achar quem está usando seu sofware indevidamente. E acaba ganhando mais ainda: uma legião de programadores que, por utilizarem seu software de gráça, contribuem de boa fé com correções e melhorias gratuitas.

E depois, se você quiser, você ganha dinheiro com seu software do mesmo jeito. Por exemplo, usando dual licenses, dai quem quiser fazer grana pesada com seu invento tem que te pagar e usar uma licença comercial. O Firefox é assim, por exemplo (ou pelo menos era), assim como o mySQL.

Tem muita empresa que usa o open source como um escudo: coloca partes proprietárias dentro de um produto composto por vários open sources, com as mais diversas licenças de modo que o todo sai protegidinho, mesmo sem mostrar o pulo de gato que está encapsulado no componente proprietário.


Tem outras que realmente liberam determinado software, que passa a ser gerido por um grupo de pessoas e/ou empresas de boa, sem possibilidade de vender depois. Mas muitas vezes isso é feito por alguém que não tem no software seu nicho de mercado. Pesquisam, investem, e liberam. Dai ninguém mais usa comercialmente, mas o uso em si alavanca (acho que nunca tinha usado esse termo) os pontos onde a empresa ganha dinheiro. Será que com o Android, que deixará muito fácil e bem mais barato fazer celulares com um ótimo sistema operacional, não vai ajudar a Google com seu lance de ganhar provendo serviços como buscas e mapas?

Claro que tem muita coisa bacana, tem a comunidade atuante, tem o usuário doméstico usando de graça, tem a qualidade advinda do código ter livre acesso (muitos ajudando a otimizar), etc, etc e tals. Tem maneiras mais éticas de fazer o uso desse conceito, tem outras maneiras de ganhar com isso além das que citei... enfim, é complexo. Não sou contra a iniciativa de maneira nenhuma, sou muito a favor.

Mas não teria graça falar as partes que todo mundo defende num post cético, então fica essa reflexão.

E, na onda dos 3Ds

No mínimo interessante:


Não só terror e desenhos vão entrar na onda dos 3D!

Dessa vez a industria pornô veio atrasada nas inovações tecnológicas :)

08 fevereiro, 2010

Cupinzeiro ou Berra Vaca?


União Altaneira, Beeiro, Caxerosas, Cupinzeiro e Berra Vaca. Quem nunca ouviu falar nenhum desses nomes é porque não conhece o carnaval de Barão Geraldo. São blocos de rua de vários bairros de Barão Geraldo e se encontram no dias de Carnaval em seus trajetos pelas ruas do distrito.

A apoteose costuma ser no início da avenida Santa Isabel (onde também acontece a concentração do Berra Vaca). O União Altaneira é formado pelos estudantes da Moradia da Unicamp. O Cupinzeiro pela galera do Jardim Santa Genebra e o Beeiro por carnavalescos da Vila Santa Isabel. Já o Berra Vaca, pela união de outras vertentes...

Sem apoio da prefeitura, essa manifestação carnavalesca, em Campinas, não tem esquemas rígidos de desfile nem de horários, mas quem quiser aparece e a folia rola solta todos os dias do carnaval.

Esse ano fico em Campinas no carnaval. Dai, como da outra vez que fiquei, acho que devo passar pelo Cupinzeiro. Se bobear apareço no Berra Vaca também.

Tem os outros blocos que não conheço, esses vão depender do ânimo e do calor nos dias.  Aliás, se mais alguém for estar por aqui, vou copiar ali embaixo, no fim do post, a programação pro carnaval de Barão desse ano.

De qualquer forma, se estou escrevendo aqui, é claro que tem alguma viagem envolvida. E a viagem de hoje é sobre cultura popular.

No outro ano que fiquei aqui visitei esses dois que comentei (Cupinzeiro e Berra Vaca), e depois ouvi algumas várias discussões Unicamp afora sobre esses blocos.

O Cupinzeiro pareceu ter um perfil mais "cult", sendo inclusive um "núcleo de sambistas e compositores", atuante não apenas no carnaval, e que conta, por exemplo, com interpretações de Geraldo Filme, Adoniran Barbosa, Eduardo Gudin, Germano Mathias e Paulo Vanzolini, além de sambas cantados pelos antigos escravos de fazendas de Barão Geraldo. E teve menos gente (muitas famílias, crianças e estudantes da Unicamp).

O Berra Vaca já lembrou naquele ano um perfil mais "normal", com marchinhas, e com muito mais gente. Mais esquema "pegação"  (nada perto das famosas micaretas, by the way). Nas concentrações ouviamos muito do axé e do funk, já meio de lei nos últimos carnavais. Detalhe: não ouvi isso no bloco, mas de pessoas que frequentavam o bloco e durante a concentração.

Receio que minha opinião do Berra Vaca esteja errada.

Depois de tanta introdução. às viagens... ouvi muitos amigos dizendo que o Cupinzeiro tinha sido sinônimo de cultura e o Berra Vaca tinha sido sinonimo de povão. Essas visões podem ser injustas, e podem ser devidas ao pouquinho que experimentamos do Berra Vaca (fui embora cedo, não curti o ambiente, tava cansado... enquanto no Cupinzeiro eu acompanhei até o fim, com direito a carregar algumas das alegorias junto com o Maurício).

Mas independente disso e supondo, só pra viajar, que nossa experiência seja suficiente pra entender o perfil dos dois blocos, até onde temos o direito de chamar o sambinha "cult" de cultura, e o sambão pegação de não cultura? Será que tentar voltar e reviver um passado meio mítico (e que "chutamos" que era assim) é mais cultural do que se inserir no comportamento da sociedade na qual vivemos atualmente?

Dá pra fazer analogias com várias outras situações, e não sei a resposta. Se deixar massificar e esquecer a obra artística anterior não deve ser sinônimo de cultura. Mas se apegar ao passado e não tentar entender e se inserir no novo talvez também não seja. Qual será o ponto ótimo?

E, na verdade, nem entendo direito o motivo desse post. Não tenho nenhuma opinião pra compartilhar... deu vontade de escrever essas viagens todas. Aliás, pessoalmente, me diverti mais no Cupinzeiro e devo voltar nele esse ano.

Acho que, no geral, dá pra esquecer tudo que veio acima e se apegar na programação abaixo. Quem estiver por ai e quiser prestigiar o carnaval de rua, sem filosofar sobre o assunto e sim se divertir, anota ae:


Programação do Carnaval 2010 em Barão Geraldo (confirmem antes, copiei de um site aleatório):

Dia 12 de fevereiro
Bloco Berra Vaca – a partir das 23h
Concentração: Banca Central

Dia 13 de fevereiro
Bloco Caixeirosas – a partir das 15h
Concentração: Praça do Coco
Saída: Vila São João

Dia 13 de fevereiro
Bloco União Altaneira – a partir das 16h
Concentração: Av. Santa Isabel/ Banca Central
Saída: Moradia da Unicamp

Dia 14 de fevereiro
Bloco Carna Barão – a partir das 16h
Concentração: Banca Central
Saída: Av. Santa Isabel, em frente ao Supermercado Oba

Dia 15 de fevereiro
Bloco Cupinzeiro – a partir das 18h
Concentração: Praça do Coco

Dia 16 de fevereiro
Bloco Beeiros – a partir das 19h
Concentração: Av. Santa Isabel
Saída: Moradia dos Estudantes

Dia 16 de fevereiro
Bloco Berra Vaca – a partir das 23h
Concentração: Banca Central